domingo, 24 de maio de 2015

Quisera eu.

Quisera eu não mais fazer o poema mais lindo e tenso/ quisera eu não mais poder cuspir toda a velocidade das coisas/ quisera eu voltar a sonhar com uma casinha no campo com galinhas correndo/ quisera eu, novamente, erguer a bandeira preta da paz/ quisera eu poder jogar futebol na pista, sonhando eu ser o "anjo das pernas tortas" e mesmo sabendo não se-lo, com os dedões sangrando, continuar a quimera dessa realidade sonhada/ Quisera eu não ouvir os sons de bombas na França que sonho um dia conhecer/ quisera eu cantar-te ao pé dos ouvidos às doces palavras que somente as diabetes de amor absorvem.



O dormir do sol.




terça-feira, 12 de maio de 2015

Dia das mães

É costume, aqui no Brasil, comemorarmos o dia das mães no segundo domingo do chamado mês das noivas. Entre goles de chá, numa segunda-feira preguiçosa, pergunto-me se realmente há a necessidade de termos tal data comemorativa, pois, muitas das vezes, esquecemos do real sentimento deste dia justamente por estarmos atrelados pelo consumismo propagado pela mídia, principalmente em datas nas quais estamos, teoricamente, mais amáveis e sensíveis para com nossa genitora.  Assim, relacionamos o dia das mães aos mimos e presentes mercadológicos, enquanto que benesses mais importantes são esquecidas ao longo dos dias em troca de produtos de consumo.
A meu ver, nada de errôneo há em presentear nossas ilustres mães, autora de nossa existência. Afinal de contas, não há nada de mal em dar-lhes um presente que possivelmente trará alegria e contentamento. Porém, no mundo contemporâneo, o que percebemos é uma propagação a comprar, como se o resultado final de um dia de festejos fosse apenas o produto com tanto esmero embrulhado. O dia de nossas genitoras tornou-se símbolo do consumo pelo consumo, enquanto que a singela e pura satisfação é justamente a demonstração do afeto, do companheirismo e da consideração para com nossas “senhoras”, e não somente a satisfação imposta por viés mercadológica.

 Diz-nos a lenda que os primórdios desta celebração datam de maio de 1905 na cidade de Grafton, no estado da Virginia quando Anna Jarvis perdeu sua mãe, Ann Marie Reeves Jarvis. A jovem, diante da dor ocasionada pela perda de sua mãe, organizou, com a ajuda de amigas, um evento para homenagear todas as mães, além de ensinar às crianças a relevância da figura materna. Assim, celebrou-se um culto em homenagem às mães na igreja metodista na qual era filiada. O sucesso da atitude de Anna e suas amigas chamou a atenção da população e dos líderes políticos de então. A repercussão se espalhou pelo “tio Sam”, sendo adotada por outras regiões. Assim, em 1914, Woodrow Wilson, então presidente dos EUA, propôs o segundo dia de maio como o dia nacional das mães. Anna Jarvis se tornou, assim, patrona dessa data.
Hoje, porém, vemos bem distante atitude como a de Anna. Vejo filhos que não respeitam sua mãe, rebentos que não fazem uma visitinha, “crias” que nem ao menos fazem uma ligação a fim de saber como estão suas protetoras desde tenra infância. Enquanto isso, esses mesmos filhos postam, em épocas de festejo às mães, declarações amáveis para posarem de bons filhotes na internet via redes sociais. A artificialidade desses ditos “filhos” só não engana a eles mesmos. Assim, a lembrança de sua mãe só vem quando há alguma celebração relacionada diretamente a elas, tais como: aniversários ou dia das mães.
Ao pegar da ‘pena’ a fim de escrever esta crônica, lembrei-me em flash de momentos cruciais dos quais a participação de minha mãe foi de extrema relevância para meu estimado andar neste mundo. Mundo, muitas das vezes, cruel e injusto. Das muitas decisões que tive que tomar a estimada contribuição de diálogos que tive minha genitora, foi de preciosa valia para que eu pudesse direcionar minhas ações.

Domingo último foi mais um dia desses. Reunião leve e amigável na qual desfrutamos de uma excelente macarronada, um ótimo arroz à grega, uma feijoada com salpicão, alguns petiscos e, por fim, um delicioso mousse de chocolate. Amigos, família, namorada e, óbvio, a homenageada, todas estiveram presentes nesta reunião “domingal”. O mais importante em datas assim é justamente a comunhão e a paz que circula nas faces das pessoas. Sendo assim, desejo que os filhos deem a devida importância que suas mães merecem. Não somente nas festividades, mas durante todo o ano. Visitem-nas mais vezes, telefonem para conversar ou ao menos dizer um “olá”. Ou, ao menos, teclem com elas através dos whatsapp ou facebooks da vida. Não esperam que elas não estejam mais aqui para que possamos, mesmo que minimamente, demonstrarmos nosso amor para com elas.   E por fim, não perpetuem a ideia de apenas aquecer o consumismo, tornando, assim, o presente em ponto final da festa.

sábado, 2 de maio de 2015

Menina de areia


Espraiam-se na alva areia
A volta das ondas ao mar.
Assim sem a força de outrora
Encharcam a maré de saudade...
Diluem-se uma a uma.
Assim fluidas assim mornas...
Terce à secura nostálgica
Da menina de areia defronte a cantar.

Juventude Vilipendiada

      Há muito, tentei negar a máxima de Jean-Jacques Rousseau, pensador do iluminismo francês, em meados do século XVIII, na qual expressa uma avassaladora mensagem: “o homem nasce bom, a sociedade o corrompe”.  A partir dessa premissa, fico a pensar em todo o caos produzido nesta sociedade confusa e caduca. Os dizeres do filósofo do chamado 'século das luzes' invocam uma horrenda certeza que me parece cravada no âmago da consciência: Nossos adolescentes, crianças muitas das vezes, perdem-se denotativa e conotativamente no tempo e no espaço.
      Assim, facilmente, ao sairmos de casa para labuta hercúlea de todos os dias, deparamos quase que constantemente com cenas dantescas de crianças e de adolescentes pedindo esmolas, suplicando um trocadinho qualquer, seja próximo de semáforos, seja próximo de nossas residências.  Diariamente, essas cenas humilhantes e revoltantes enchem-nos os olhos com pavor e desgosto, o que nos faz pensarmos quais seriam as razões para que essa praga social ainda assole nossa sociedade.
      Primeiramente, a desestruturação familiar se torna cargo-chefe na metamorfose na qual transformam alguns jovens em “pedintes de rua”. Ao ver do escriba dessas mal-traçadas, nenhum pai ou mãe que ame seu filho e que esteja em sã consciência, deixaria sua carne, seu sangue, sua perpetuação genética na terra em horripilante situação. O mesmo se aplica aos filhos adotivos, filhos d’alma. Lamentável observar que alguns desses ditos “pais” que mais parecem monstros algozes de seus rebentos são patrocinadores desse cenário imoral e desumano enquanto que como genitores deveriam agir humanamente com seus filhos e, consequentemente, protegê-los, educá-los e amá-los condicionalmente.
     Outro fator preponderante para essa calamidade é justamente a ausência de políticas públicas de combate e prevenção a esse mal social. Percebemos que o Governo, em todas as esferas, é co-responsável por essa vulnerabilidade a que estão expostos nossas  crianças e adolescentes. Assim, penso que esse entrave seja extremamente dificultoso para progresso de uma nação, pois a politicagem que impera em “terras tupiniquins” gera um retrocesso, e, por conseguinte, uma espécie de paralisação do estado democrático de direito.  
      Ao andarmos pelas ruas, vielas e avenidas dos ditos grandes centros urbanos, percebemos o quanto parte de nossa juventude está vulnerável a múltiplos problemas sociais, enquanto que nossos governantes, em geral, demonstram descaso para tal situação. Um jovem pedindo esmolas na rua provoca uma série de conflitos, tais como: a criminalidade, as drogas, a prostituição, a violência urbana, o estupro, dentre outros germes que empobrecem nosso país.

       A partir de atual conjuntura social, faz-se necessário um olhar mais apurado e cauteloso do Governo a fim de solucionar ou ao menos minimizar essa espécie de peste que devasta uma considerável parcela da juventude brasileira. Necessita-se de construção e reestruturação de escolas públicas a fim de mantermos nossos jovens nas escolas, possibilitando a ótica de que os estudos são preponderantes à ascensão social, programas de estágio remunerado para incutir a satisfação de obter as coisas que desejamos através do dinheiro advindo do trabalho, uma maior interação entre pais e filhos como processo de instrução internalizando valores, ética e moral, preparação educacional dos centros de internação de menores infratores a fim de obter êxito na socialização, construção ou ativação de centros culturais e esportivos para propagar a cidadania, quiçá a descoberta de novos talentos.   E, assim, tentarmos apagar as cinzas de nossas ruas e colori-las das verdadeiras cores que nos interessam: as cores da justiça, da igualdade e da inclusão social. 


Menina cortesã

Pobre menina cortesã
De abrigo fácil no meio da noite
Reluz em si a amperagem
Do desejo a plenitude do gozo.
Pobre menina cortesã
Moribunda do prazer alheio.
Apruma-se para fealdade que a espera...
Minissaia, cano escuro, maquiagem gasta.
Truques e malícias.
Script de uma dama perfeita.
Pobre menina cortesã
Cocotte de luxo dos suados operários das fábricas, dos executivos endinheirados.
Vítima de seu consentimento, algoz de si mesma, atriz da promiscuidade.
Rímel de uma anjo perturbado.
Que por trás da carne usada
Encobre um choro censurado.
Pobre menina cortesã
Não se abstém dos perigos exaltados
Sífilis, gonorreia, hepatite e a sida incubada.
Pobre menina cortesã
Com quantos anos perdeu sua mocidade?
Em qual batom ficará sua última artificialidade?
Pobre menina cortesã
Solícita, aguarda o próximo enamorado.
Enquanto no azulejo branco do fétido banheiro,
Vê-se outra vez ceifada em lágrimas
As máscaras que esconde.

Um romântico contido

Impossível falar de literatura Brasileira sem mencionar o nacionalista radical, àquele que transformou seu nome em adjetivo, ou seja, iríamos todos nós, nascidos na terra de Iracema, nos torna Alencarinos.
José Martiniano de Alencar Junior, o cazuza na adolescência, e caturra na infância, nasceu em primeiro de maio de1829, em Messejana. De espírito inquieto e apaixonado, fora sempre taxado e/ou acusado de monarquista, conservador, tendo de se defender das acusações de escravista. Aliás, Alencar passou boa parte de sua curta vida se defendendo, tanto na arte literária quanto na política. O primogênito de Dona Ana Josefina e de Senador Alencar, queria uma literatura brasileira, um teatro nacional, uma música sem favores a cultura européia. Porém, Alencar não deixaria de reverenciar seus amados Lamartine, Victor Hugo, Chateaubriand, James Fenimore Cooper, Walter Scott, Balzac.
Ainda, na capital paulista, começou sua trajetória no mundo das letras, quando no primeiro ano do curso de direito,criou uma revista com os colegas, "Ensaios Literários", no qual publicou "A pátria de Camarão" (sobre Felipe Camarão que combatera a invasão Holandesa) e "Questões de estilo". Alencar era leitor oficial nos saraus da casa, nas noites, no Rio de Janeiro, quando seus familiares se reuniam em torno da mesa, iluminados pela Lâmpada de óleo para ouvir as novelas inglesas que muitas vezes arrancavam lágrimas dos ouvintes nos capítulos de maiores emoções. Alencar relembraria esses encontros em sua autobiografia "Como e porque sou Romancista":
                       "Foi essa leitura contínua e repetida de novelas e romances que primeiro imprimiu em meu espírito a tendência para essa forma literária que é, entre todas, minha predileção?"  
 Em 1851, Alencar estreia no jornalismo, no Correio Mercantil. Estreia na ficção em 1856, como o romance Cinco Minutos, em formato de folhetins no Diário do rio. O mesmo caminho percorrido por sua segunda obra "A Viuvinha".
Em 1857, publica, com grande repercussão, "O Guarani". A história de amor entre Peri e Ceci, o índio que se apaixona pela mulher branca, transformada em ópera nos acordes de Carlos Gomes, grande sucesso na Scala de Milão em 1870. Em 1857, estréia a peça "As asas de anjo" que fora proibida depois de três dias em cartaz.
em 1865, lança "Lucíola" e em 1863 lança seu segundo perfil feminino com "Diva". Alencar lança, em 1865, sua obra-prima Iracema, que narra a história de amor entre o fundador do Ceará, Martim Soares Moreno, e uma índia tabajara, a "virgem dos lábios de mel" e "cabelos mais negros como a asa da graúna". Em 1870, publica "O gaúcho, A pata da gazela, e O tronco do ipê". E lança Ubirajara e Senhora em 1874. Em 1875, sai O sertanejo e em 1893 sai a publicação póstuma do já citado "Como e porque sou romancista".
Alencar morre em 1877 de tuberculose, deixando para posteridade um legado de cultura, talento, ousadia e um projeto de construção de nossa identidade, a "cara do Brasil", para muitos considerado o fundador do romance nacional.

Conversas de bar

O incomum se faz comum. O imprevisto uma certeza. Os olhares sugestivos, os sorrisos discursivo e a vontade de tocar a boca da loira. A loira gelada que tanto nos afaga a alma e nos libera instintos. Sim. Instintos. Dos mais horrendos aos mais sublimes. Afinal, somos animais de carne, osso e pelo. No caso dos meus ilustres amigos de celebração a boêmia, mais carne e pelo. Ilustres que foram batizados de Marcio e Emerson. O boi e o Epi, respectivamente. E não me façam explicar tais apelidos, por favor. 
O que seria de nós sem nossos velhos e generosos amigos de batalha? Daqueles amigos fiéis que te ligam só para saber se estamos bem. Daqueles que só não emprestam dinheiro porque também não os tem.
Ontem, foi mais um dia desses que de não programado tornou-se um evento paralisante do tempo. Hipérbole? Talvez meu caro leitor. Mas foi assim que me senti quando "bebemoramos". E assim, talvez, sentiram-se meus fiéis escudeiros. Ontem, ao sentarmos a mesa do barzinho do Coelho, tivemos a oportunidade de falar e escutar o outro. o "outro" que tanto é ignorado pela lógica selvagem de nosso pós-modernismo. Conversa vai, conversa vem... Carro, dinheiro, relação homem e mulher, namoro, futebol, nossas profissões, nosso tão sonhado réveillon e pasmem iogurtes e queijos rodaram nos papos em nossa mesa melada da espuma da Brahma Fresh, e aqui não faço propaganda. Estou sendo fiel aos acontecimentos. E assim, quando a noite teimava em se fazer alta e o mini-garçom guardava as mesas e cadeiras, lembramos de que pela manhã tínhamos compromissos. Trabalho. Afinal, é se trabalhando que se paga a loirinha de cada dia.
Um leitor mais puritano, com todo respeito, poderá questionar a relação quase carnal entre boa amizade e bar. Não penso na impossibilidade de amizade fora do eixo bar, porém compartilho do pensamento do grande poetinha Vinicius de Morais: "Nunca vi boa amizade nasce em leiteria".