Diante
do espelho do seu quarto, gostava de se exibir nua. Naquele grande oráculo de
vidro no qual se acostumou a examinar suas reluzentes curvas, suas alvas
nádegas em formação promissora, seu sexo rosado, exauria-se consternada com seu
narcisismo. Passava longo tempo a tecer suas finas madeixas pretas e, sempre na
pausa do pente, virava-se ao tal espelho, inclinava a face acima do ombro,
empinava-se e dava batidinhas na bunda. Gostosinha.
“
Cibele, vais se atrasar”
Cotidianamente,
acordava daquela contemplação narcisista com os chamados de Dona Margarida, sua
boníssima genitora. Jovem e bonita, Cibele era uma ótima filha. Sempre educada
e solícita com os pais. O pai, seu João, trabalhava com representação de firmas
ou coisa desse tipo. Já dona Margarida ralava em um cartório do centro da
cidade. Ambos trabalhavam fio a fio a fim de dar melhores condições de vida
para a única filha.
“ hoje é a tal entrevista?”
“ Sim
mãezinha”
“ Quer
que eu vá te deixar, minha filha?”
“ Não
precisa seu João. Já sou uma mocinha” Saiu-se rindo, antes, porém, deixou um
beijo na face de seus genitores.
Chegou
às 15:30. Uma hora antes do horário marcado. Dirigiu-se à recepção do estúdio
FOX MAGAZINE onde foi atendida e
orientada a aguardar que a chamasse. Enquanto
esperava, observou tudo que seus castanhos olhos puxados puderam apreender. A mobília
colorida, os quadros surrealistas de Dali na parede, fotografias na mesa
central, revistas sobre a história da fotografia, colagens de Andy Warhol...
“
Cibele. Cibele?
“ Ah!
Desculpe-me. Estava distraída. A moça da
recepção apenas sorriu como se dissesse que não havia problema para tal
concatenação.
“ Siga
em frente no corredor, dobre à direita. Porta azul, boa sorte”
“
Obrigada”
Trêmula,
Cibele seguiu na direção da porta na qual daqui a pouco adentraria e passaria
por uma sabatina a fim de conquistar o tão almejado primeiro estágio na área de
concentração de seus estudos: fotojornalismo.
“ Entre”
“ Boa tarde”
“ Boa
tarde, tudo bem, Cibele?
Impactante.
Essa foi a primeira imagem da mulher que lhe disparava perguntas e mais
perguntas sobre as habilidades profissionais da moça: manuseio de câmera,
domínio razoável da escrita padrão, disciplinas já cursadas na graduação...
“ Então,
cursas o 5° período de Comunicação Social...?”
Cibele
respondia com exímia prontidão a cada quesito da editora chefa da FOX, embora
observasse atentamente o batom vinho na boca carnuda de Paula. Linda. Paula, na
casa dos 27, era uma publicitária já bem encaminhada na profissão herdada da mãe.
Era sim de uma família abastada na qual vários empreendimentos consolidaram o
voluptuoso capital familiar: hotéis, pousadas, restaurantes...
A
administração dos negócios, desde o avançar temporal dos pais, ficava a cargo
dos três filhos, obedecendo a aptidão de cada um: George que estudou turismo e
gastronomia, ficou responsável pelos restaurantes, enquanto Kleber, formado justamente
em administração, encarregou-se de tocar
os hotéis e pousadas espalhadas no litoral nordestino. Assim, Paula ganhara
como presente de formatura um estúdio da família para administrá-lo. É bem da
verdade que tivera essa benesse que a possibilitou tecer e equilibrar sua vida
profissional e financeira. Entretanto, Paula tinha sim um apurado de talento e
ousadia. Ampliou os horizontes da empresa de comunicação, expandiu parcerias e,
de quebra, firmou contratos rentáveis com campanhas publicitárias para o
governo. Atualmente buscava uma nova assistente depois da demissão de Sandra
por motivos de “deficiência técnica” como a própria Paula expressaria em uma
conversa com os pais na ocasião.
Cibele
buscava desde o início de sua vida acadêmica uma oportunidade de aliar prática
a teoria. Leu o anúncio nos classificados do jornal da “promissora” vaga. Imediatamente, mandou o currículo como
mencionado no matutino. Após alguns dias, recebeu um telefonema marcando uma
entrevista.
“
Desculpe-me, eu estou...”
Não se
sentiu muito a vontade com a câmera, apesar de ter sido exímia nas disciplinas
de fotografia. A presença e, principalmente, aproximação de Paula nas suas
costas, acelerara seus batimentos cardíacos. A respiração também acelerara. A
passividade e o nervosismo de Cibele despertara um aura sensorial de prazer e
fascínio em Paula.
“ Tente
de novo, meu bem...” . Meu bem?,
estranhou.
A
graciosidade da fala somada o largo sorriso que denunciava o quão era alvos e
bem tratados a arcada dentária da publicitária, contagiaram Cibele e fizeram-na
concatenar em si uma confiança exacerbada. Desta vez, poria a cabo toda punhado
de dúvida e hesitação sobre sua
capacidade de manuseio daquela Canon...
“ Por
hoje chega. Manteremos contato em breve...”
Apenas
essa simplória frase foi ouvida por Cibele ao deixar a sala de porta azul. Para
Cibele, não fosse o sorriso largo de Paula, daria por findado ali mesmo a
esperança de obter aquele estágio. Foi justamente com outro sorriso que se
despediu.
Em casa,
à noite, como contumaz, ficou pelada de frente ao espelho. A imagem de sua
beleza quase perversa traziam-na excitação e soberba. Às vezes, depois do
banho, colocava alguma música e dançava até à exaustão, rodopiando até cair de
bruços sobre a cama. Na manhã daquele
dia, ainda nua, acordou com o despertador do smartphone ao lado do seu travesseiro. Percebeu que adormecera após
seus passos de dança da noite anterior. Ainda sonolenta, observou uma mensagem
ao desligar o irritante som do galo eletrônico. Ao ler, pulou imediatamente da
cama. Um misto de satisfação e alegria inundou-na. Imediatamente deixou aquele
estado de sonolência e meteu-se embaixo do chuveiro. Deixou-se num pensar mais
verdejante, enquanto a gélida água percorria seu corpo.
Os dois
primeiros dias foram de extremo encantamento e medo. Sempre com a solícita e
afetuosa supervisão de Paula, mostraria suas habilidades naquele período de
experiência Trabalharia ali... Pertinho.
Porta azul azul azul... Dali a uma amizade foi apenas o curto espaço de tempo
de cinco dias. Paula a convidava a almoçarem juntas. Elogia tudo de CI. Dos
negros finos fios de cabelo a roupas. Dizia que tinha se afeiçoado em demasia e
se entusiasmado de mais por Cibele. Estranhamente, Cibele rebebia os elogiosos
comentários de sua chefa com a maior naturalidade, embora estranhasse um pouco
os olhares fixos e os sorrisos açucarados.
Habituou-se
uma a outra. Geralmente, saiam juntas após expediente da empresa. Bares,
exposições de arte, cinema...vez por outra, iam a casa de ambas. Sim.
Ultrapassaram as paredes da FOX, embora não deixassem aquela repentina
aproximação paralisar os compromissos assumidos. Tinham prazo e agenda corrida.
Muitas propagandas a serem executadas. Certa vez, ao observar Paula conversando
com o gerente executivo, bateu-lhe um aperto e uma imensa vontade de chorar. A
possibilidade de não ser contratada trouxe-lhe uma inquietação.
Boca rosada, magrinha, minissaia e uma camisa
vermelha. Foi assim que chegou ao apartamento 312, no 6° andar. Recebera uma
mensagem de texto convidando-a tomar uns drinks.
Ao subir pelo elevador, estranhou ter vindo sem sutiã já que geralmente usava a
fim de avolumar um pouco mais os diminutos seios. Mal entrou, Paula, talvez de
um súbito impulso freudiano, puxou-a pelo antebraço direito e, repentinamente,
a solveu pela diminuta cintura. O beijo leve e brando. Azul azul azul...
Cibele deixara
ser usada sem nenhum esforço. Numa submissão irreconhecível. Atada. Paula
sugava seus seios com voracidade de um animal que há dias não come. Apenas
fechou os olhos, enquanto Paula passava a língua na sua esbelta barriga rumo à
vulva. Entregara-se de vez. Gemia Gemia Gemia...
Sentiu
um pouco de asco quando Paula pós sua vagina para apreciação lingual. Lambeu insegura, porém os gemidos de prazer
da publicitária a estimulou a enfiar à língua cada vez mais profunda e ligeira.
Umedecendo suavemente os dedos com a saliva, Paula enfiou a mão direita embaixo
da minissaia vermelha listrada e introduziu na linha de Vênus o dedo indicador,
depois o seu vizinho e conforme o degelo do iceberg, mais acelerado ficava o
movimento. Chupou os dedinhos dos pés Da moça um por um... Novamente o beijo
leve e brando. Voltando a devorá-la em
seguida.
Dias depois,
já havia regularizado a documentação para assinatura de contrato de trabalho, quando
recebera um envelope com as fotos retiradas no dia da entrevista. No envelope
madeira ainda havia um bilhete: ‘FICARAM BOAS’. Cibele olhou para fotos,
mastigou o chiclete no canto esquerdo da boca, sorriu e disse: “
Ficaram”. Azul azul azul...