quinta-feira, 9 de julho de 2015

Indébita, o pagar da carne

Acabara de sair do banheiro.  Os cabelos ainda molhados denunciavam a ducha de há pouco.  Com a sempre toalha de seda, presente da madrinha promotora de justiça, esfregava  entre as loiras madeixas, respigando as últimas gotículas no chão branco do quarto. Com a toalha úmida, jogou-a sobre a cama e, de súbito, começou a apalpar a rechonchuda vulva rosada.  Daí, ao impulso impensado de gravar-se no celular foi instante.  O dedo indicador da mão direita deslizava suavemente ao longo dos fios grossos de carne. Um gélido calafrio subia-lhe da coluna cervical a nuca. Uma suave pontada no baixo-ventre impulsionava-a intensificar os momentos. A penetração progressiva. Cada vez mais agressiva. Os três dedos devoraram-na. Pareciam ter vida própria. Os gemidos de prazer saiam sufocados diante da limitação dos metros quadrados que a distanciam no quarto da irmã caçula. Vez por outra, retirava os “amiguinhos” e, assim, batia-lhe forte sobre os fios vermelhos umas três a quatro vezes, para só depois lhe enfiar novamente os dedos freneticamente. Gemia. Cada vez mais. De repente, um som com uma maior amperagem. Uma breve pausa. Um olhar sorrateiro. A porta nada alarmara. Susto contido. Mais rapidez nos movimentos. A mão esquerda apertava-lhe os seios. Os bicos avermelhados apontavam sua excitação.Mais gemidos. Os movimentos progrediam no compasso do seu prazer. Gemia gemia ... sensação que antecede... Enfim, o gozo. Espessura grossa e branca. Tirou seus dedos molhados. Um por um, ela lambia-os da unha de tintura vermelha até o fim deles.  Antes, porém, levou o aparelho celular, testemunhal daquele monólogo, à altura da linda face angelical. Os verdes olhos fixavam-se para câmera do smarthphone a fim de registrar sua “aventura”. Às vezes, fechava-os por instantes, abrindo-os grandes em seguida. Olhar provocador.  Contava com seus 19, embora aparentasse bem menos.  Passava a língua levemente nos lábios, da esquerda para direita, mordiscando os carnudos vermelhos lábios. Umedecia-os. Delicadamente lambia as últimas gosmas esbranquiçadas. O beijo final para câmera.  Mais provocação.
A arma do menor infrator penetrou na súbita passagem. Constatou que não fora dessa vez. Da agonia depois, saltou do copo com líquido cheio de sódio e cristal seus pensamentos. Lembrou-se do aparelho que fora com o tintilar da voz infantil.  Na casa da madrinha, aos choros e berros indecifráveis, ela reavia sua privacidade expandida. Já projetava sua vida arrematada a todos. Ideia oca tivera. Vulgarização de si. A madrinha, entre uns goles de Contreau, rabiscava as possibilidades a fim de munirem-se contra o porvir. Contou detalhadamente à madrinha as agruras que havia experimentado. Até então, nunca havia pensado na problemática social.
Ao ir à faculdade, percebera os olhares sugestivos, os sorrisos de canto de boca ou mesmo dedos lhe apontando. De repente, palavras desaforadas dirigidas a ela referente ao dedo indicador. Piadinhas vorazmente destruíram-na. Desesperadamente e, ao choro, correu pelos corredores ao estacionamento.  Acordara com o acariciar da mãe. Um susto incomunicável. Outros presságios se seguiram. No dia do roubo, não foi à universidade na qual cursava o quarto período de publicidade. Ausência que se repetiria por toda aquela semana. Impulsionada pela madrinha, voltou, com bastante custo, a suas atividades cotidianas. Embora, vivenciasse o terror. A cada sorriso uma angústia, a cada olhar a si uma interminável aflição. Suava. A vontade iminente de ativar o aparelho lacrimal. Constava que todas haviam visto sua nudez imprudente. Maldita ideia, pensava. Tudo mudou. O isolamento social necessário. Não era a mesma. Sentia-se violada. Violação autorizada por mim. Pensamentos que vieram enquanto folheava, sem nenhum interesse, uma desatualizada revista que jazia no centro-sala da clínica de doutora Fabíola. Estuprada virtualmente, embora não tivesse nenhuma concretude dos fatos, vivia no invólucro de si. Protegida. Agredia a todos antes mesmo de se aproximassem.  Raros eram as ocasiões na qual alguém rompia aquele prepúcio de exílio voluntário. Certa vez, ao ver uma belíssima jovem se aproximar, enquanto tomava sol na área da piscina do edifício onde morava, teve um impulso de levantar-se e ir-se antes da importuna. Entretanto, antes que pudesse por seu plano em curso, fora interpelada com um sorriso límpido seguido de um bom dia entusiasmado. Respondeu-lhe dissabores antes da moça completar a enunciação. A cabeça em frangalhos a cada ida à terapia. Sem nervos.
Um dia, quando voltara de mais uma sessão, no banho de sempre, ao se refrescar do suor pregado no corpo, as gotículas quentes misturavam-se com as gélidas que caiam do chuveiro. Deslizavam, desviando-se de curso ao colidir com os pontudos mamilos rosados. Viveria a dualidade que ela mesma provoca-lhe. Voltara a se flexionar depois de meses.